A Mídia Mágica

por Dayanne Feitoza

Show do grupo Teatro Mágico. Espera-se que a banda apareça com seus instrumentos no palco e cante uma canção para embalar o público. Quem vai a um show deles pensando assim, engana-se completamente! Quando as cortinas se abrem e um “palhaço” entra em cena em um misto de encenação e declamação poética, o chão literalmente treme. Os jovens de 8 a 80 anos se agitam e começam a acompanhar cada palavra dita pelo cantor-palhaço-poeta. É inacreditável! Pelo menos para quem está ali pela primeira vez. Este é o momento em que se nota que o local está lotado de pessoas que, de certa forma, se misturam aos artistas e ao show. Há fitas coloridas, camisetas com frases das músicas e, é claro, narizes de palhaço por toda parte. Mas de onde vem tudo isso? A resposta é simples e inusitada: a velha e conhecida propaganda boca a boca e, claro, uma ajudinha da eficaz ferramenta de comunicação em ascensão, conhecida como internet.

Foto: Felipe Borges
O Teatro Mágico, comumente denominado apenas por TM, surgiu em 2003 com uma proposta inovadora: misturar música, teatro, circo e poesia em shows e discos. A ideia partiu dos saraus (apresentações artísticas) que Fernando Anitelli, idealizador e vocalista do grupo, frequentava. O que a princípio seria apenas uma apresentação musical, transformou-se em um grande sarau amplificado, no qual público e artista são parte indivisível do espetáculo. Com letras e canções que mobilizam a plateia, o Teatro Mágico cria uma atmosfera de debate e reflexão sobre os problemas sociais e a cultura livre.

Passados 7 anos da criação do grupo, com quase 200 mil CDs e mais de 40 mil DVDs vendidos de forma independente, os integrantes da trupe possuem um público fiel que constantemente lota seu shows. “A internet é o único meio de diálogo direto com o público. Não precisa dos intermediadores da indústria cultural, como gravadoras, canais de TV ou assessorias de imprensa. Nós soubemos utilizar essa ferramenta da melhor forma possível. A divulgação do nosso site é feita nos CDs, nas camisetas, nos flyers e até em adesivos distribuídos nos shows. O próprio público faz a divulgação do grupo, pois, ao acessar o site, passa a conhecer nosso trabalho de forma gratuita”, afirma Gustavo Anitelli, diretor artístico da trupe e irmão do vocalista.

Os irmãos Anitelli também são responsáveis pela criação do projeto Música Para Baixar (MPB), que seguiu o exemplo do TM ao disponibilizar o conteúdo de bandas iniciantes gratuitamente na internet. “O ‘Movimento MPB’ começou em 2008 com a ideia de unir músicos, artistas, produtores e usuários de música em torno de um debate sobre a luta pela democratização da comunicação. O ponto central para nós é que, para a música no Brasil avançar, é preciso uma comunicação democratizada. Formamos o MPB para lutar por uma internet livre, gratuita e de qualidade para todos. Quando isso acontecer, será muito mais fácil levar não só boa música, mas bom conteúdo de forma geral. Inclusive, é uma forma de ajudar diretamente as bandas, afinal, o começo é complicado e com projetos assim é possível fazer uma divulgação clara e simples do trabalho produzido de uma forma mais independente, exatamente como o TM faz até hoje. Acredito que a internet será a principal ferramenta utilizada daqui em diante para a divulgação tanto musical quanto artística, ultrapassando a TV e o rádio. A internet não tem jabá. Você não tem dono e ninguém para ditar o que é certo ou não ou o que faz parte ou não da moda”, explica o diretor do grupo. Entretanto, nesses casos,  há sempre uma questão a ser levantada: uma banda que trilha os caminhos alternativos consegue sobreviver? “Sim! Ganhamos dinheiro por meio do público pagante do show. Esse é o modelo de negócio atual, a chamada economia de dádiva. O Google é um portal de busca que oferece e-mail, redes sociais, como o Orkut e o Facebook, e não cobra nada por isso. Há muita gente que vai aderir ‘que o sistema ganha na  publicidade’. Conosco acontece a mesma coisa. Muitas pessoas irão baixar o conteúdo disponibilizado no site, vão querer comprar os produtos e ir aos shows. Se o discurso seguir o mesmo do TM teremos boa qualidade, acesso a um trabalho limpo, que passa a mensagem de que da forma que se quer, o melhor permite o livre acesso a todos”.


Foto: Felipe Borges
Esse discurso deu muito certo para o grupo, que alcançou a marca de 1 milhão de downloads e mais de 5 milhões de transmissões de músicas do primeiro e do segundo CD nos sites Trama Virtual e Palco MP3. Além disso, sua comunidade em uma rede social que beira a marca de 100 mil membros. Como explicar que um grupo musical-circense-teatral, sem uma divulgação forte, consiga reunir fãs pelo país sem ter suas músicas tocadas nas rádios ou sem aparecer em programas de TV? Victor Ribeiro da Gloria Lopes, representante do Ministério da Cultura, explica: “O mercado musical é um dos mais badalados do show business. Ao lado do cinematográfico, é o ramo que dá mais retorno à produtores, empresários e, claro, ao artista. Antigamente, acreditava-se que, para que o sucesso fosse alcançado por um artista, seria necessário uma exposição exaustiva na mídia, como colocar o artista em qualquer canal de TV ou estação de rádio ao mesmo tempo, para que haja divulgação em massa. O público se cansou disso e viu na internet uma ferramenta de busca de idealidades, ou seja, onde poderia procurar o que realmente lhe interessava. Quando encontrou isso, junto com a oportunidade de poder ter esse conteúdo de forma gratuita, apostou todas as fichas. O resultado é esse fenômeno de público”. Ainda há o fato da comunidade formada por esse público, o chamado modismo, não no sentido pejorativo da palavra, mas com o objetivo de fazer com que as pessoas com os mesmos interesses possam compartilhá-los entre si. “No caso do TM, isso é visível nas vestimentas do público nos shows, nas frases das camisetas, etc. É quase um movimento de expressão, e, no entanto, há pessoas que desconhecem totalmente a existência do grupo, o que não altera em nada a força e a adoração que eles conquistaram”, conclui.

Os críticos se perguntam se o grupo descobriu uma fórmula mágica de sucesso. A banda é a prova de que é possível conquistar público e conseguir se sustentar sem ter que partilhar seus ganhos com gravadoras. Não há submissão a regras. Já os fãs do grupo garantem que não há fórmula para esse sucesso. Trata-se apenas de boa música, transmitida de forma simples, direta e gratuita. Isso é o que torna tudo mais interessante.

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