por Janicéia Pereira
Os movimentos artísticos, principalmente aqueles ligados a música, sempre foram considerados uma forma de inspiração para a juventude mundial, influenciando comportamentos, ditando modas, além de muitas vezes, revolucionar os ideais das novas gerações.
Desde a criação do rock and roll e o surgimento dos primeiros ídolos pop, o cenário musical passou por diversas transformações. Artistas que muitas vezes foram do estrelato ao ostracismo em pouquíssimo tempo, substituídos em várias oportunidades por “produtos” minuciosamente fabricados pela indústria fonográfica ou por outros componentes da grande mídia, são utilizados cada vez mais como objetos descartáveis. "Bandas com qualidade duvidosa sempre alcançaram o sucesso. Não todas, mas muitas. Pela perspectiva mais usual da palavra (vender muito), em nada me surpreende uma banda como a Restart fazer sucesso, muito pelo contrário. Em um mundo individualista como o nosso, que dá mais valor a celebridades que a filósofos, ou seja, mais à imagem do que ao talento, é natural que "produtos" de baixa qualidade façam sucesso – são mais fáceis de digerir (o mundo também anda muito apressado), têm músicas mais grudentas e acessíveis", opina Luciana Toffolo, crítica musical que possui uma coluna no site Omelete.
Com o grande sucesso alcançado recentemente por bandas do estilo Happy Rock, sendo as mais conhecidas Cine, Restart, Hori, Replace e Hevo84, muitos questionam a qualidade das músicas e letras apresentadas por esse novo estilo à juventude atual, devido ao conteúdo produzido não levar a qualquer reflexão de ideais e apenas reproduzir banalidades do cotidiano adolescente.
Foto: divulgação |
Afirmações como estas fazem com que algumas bandas pensem que estão fora do domínio da Indústria Cultural ou da grande mídia, ou que não são criações das mesmas, com a ilusão de que são independentes e que sua grande exposição e sucesso relativos são frutos de um trabalho sério e competente. Porém, isso pode ser facilmente contestado, já que a banda Hevo84, por exemplo, foi lançada ao sucesso com a inclusão de uma de suas músicas na novela teen Malhação, da Rede Globo, um dos maiores ícones das corporações midiáticas brasileiras.
O produtor da Restart, Marcos Maynard defende o novo estilo, pois acredita que o seu surgimento ocorreu exatamente porque há um público receptivo. "A banda assimila muito bem as críticas positivas. Mas é bom lembrar que o artista é o retrato de uma geração. O rock dos anos 80 é politizado porque retrata o fim da ditadura no Brasil. A Restart atrai o público adolescente com letras simples, diretas e melodias simples também porque retrata sua geração."
De certa forma, a Indústria Cultural pode ser comparada a um polvo com muito mais do que oito tentáculos, que consegue penetrar até mesmo nos mais hostis ambientes undergrounds, desde que ela saiba que ali possa “capturar” algo, que posteriormente poderá ser transformado em um produto altamente popular e/ou rentável.
As grandes mídias também têm interesse em absorver novas tendências mercadológicas, principalmente aquelas surgidas com o advento da Internet, através do fenômeno das redes sociais, visando formas de transformá-las em novos produtos para Indústria Cultural. Também é possível perceber cada vez mais a quantidade de adolescentes que prefere utilizar a tecnologia apenas para diversão e troca de dados inúteis, em vez de explorar o potencial informativo e didático de tais ferramentas.
Foi exatamente pela facilidade de comunicação na web que as bandas do Happy Rock conseguiram ganhar espaço no meio artístico. A pioneira Restart é exemplo disso. "É importante dizer que o sucesso deles vem diretamente da internet e dos shows. Eles só entraram nas rádios depois do sucesso na internet, e por último, começaram agora a adentrar na TV", confirma Maynard.
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Já Juliany Oliveira, 13 anos, defende o estilo geral da Cine. “Eu gosto de tudo neles, desde o cabelo, roupas, até as músicas mesmo. O ritmo das bandas é muito bom, mesmo que não tenha prestado muita atenção às letras, porque o que importa é a gente se identificar com o som”.
As bandas de Happy Rock são, no Brasil, uma das mais recentes criações pop da Indústria Cultural. Elas demonstram o poder que esta última tem de se adaptar de maneira rápida, ágil e eficiente na construção de novos ídolos, estilos, modas, produtos e até mesmo de comportamentos. Na era da quarta Revolução Industrial, cada vez mais pessoas e empresas tentam ascender nos seus nichos de mercado, principalmente se valendo da mais poderosa ferramenta de informação atual, a internet, e com isso, bandas e músicos que em outros tempos, talvez jamais saíssem do anonimato, entram na grande mídia, fazendo um percurso inverso ao que acontecia no passado. Hoje, eles podem ser caçados e localizados, graças a estratégias simples, monitoradas em tempo integral por pessoas, grupos, entidades e empresas que estão sempre alertas em busca de manter o poder de massificação sobre a sociedade, ao lançar produtos que podem ter qualidade real ou que podem ser apenas uma forma de lucro.